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quarta-feira, 31 de julho de 2013

terça-feira, 30 de julho de 2013

Estão fechando


A fascinante diversidade que somente o mundo do vinho proporciona e que tanto enriquece o mercado e deleita o apreciador, perece ter os dias contados no Brasil. Centenas de pequenas cantinas fecharam e algumas fecharão em breve.

Apesar de que o Brasil não é um país vitivinícola, o fenômeno da substituição das grandes vinícolas multinacionais que predominavam nos anos oitenta pelas pequenas cantinas familiares, parecia mostrar um futuro brilhante para a região da Serra Gaúcha, pelo efeito consolidador desta cultura milenar.

Um número expressivo de famílias produzindo seus vinhos nas diferentes comunidades faria surgir a regionalidade, a tipicidade, os produtos originais e únicos e com certeza teria uma influencia fantástica no futuro do vinho na Brasil.

Estas vinícolas são as que agregam valor ao vinho.

Valor financeiro e principalmente valor cultural.

É verdade que as grandes vinícolas podem oferecer produtos mais baratos, mais acessíveis, mais padronizados, podem escoar maiores volumes em menor tempo, mas também é verdade que isso leva ao caminho da concorrência predatória, da luta pela preferência do consumidor a qualquer custo, do surgimento dos vinhos “sem pai e sem mãe”, sem identidade.

E o mundo do vinho fica sem graça, sem alma.

Para que a vitivinicultura nacional sobreviva é necessária a presença das vinícolas grandes e a presença das vinícolas pequenas, familiares.

Desconhecer isto é condenar o setor a continuar enfrentando, em clara situação de desigualdade, a força dos produtos importados que não são melhores nem mais baratos, mas agregam uma variável que ainda os apreciadores valorizam mais : são importados.

Burocracia, selo fiscal, carga tributária, difícil acesso ao crédito de custos “honestos”, impossibilidade de enquadramento no SIMPLES, falta de apoio institucional e total indiferença dos governos municipais, estaduais e federal, são algumas das pedras no caminho de quem é pequeno, de quem não faz lobby, de quem usa as próprias mãos como única ferramenta de trabalho.

Torço para que algumas medidas eficazes sejam tomadas com urgência por aqueles que algo podem fazer.

Torço para que após o choro da videira venha o broto prometedor para todos.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Série Cultura Enológica



Você sabia.....

- Que REMUAGE é o termo utilizado para a movimentação das impurezas (leveduras) até a boca da garrafa na elaboração de espumantes pelo método tradicional ?

- Que um funcionário da casa Clicquot chamado Antoine Müller idealizou uma mesa com furos que foi a antecessora dos pupitres? (figura superior direita)

- Que o pupitre “champanheiro” tem 60 furos elípticos e chanfrados em cada fase que permitem à garrafa ser deslocada da posição horizontal até a vertical invertida quando introduzida? (figura superior esquerda)

- Que o remuage é feito em aproximadamente 60 dias através de deslocamentos semanais quando a garrafa é girada meia volta e introduzida ligeiramente?

- Que posteriormente, quando a impureza encontra-se na boca é separada através do congelamento do bico? (figura inferior direita)

- Que as grandes produtoras de Cava e Champagne, para diminuir custos de mão de obra utilizam equipamentos chamados “giropaletes” que são paletes de aproximadamente 600 garrafas colocados sobre uma base metálica octogonal.
Esta base permite movimentos em oito posições diferentes que ao serem feitos leva as impurezas lentamente até a boca da garrafa? ( inferior esquerda)

- Que para pequenas produções é utilizado o pupitre com a movimentação individual das garrafas?

quinta-feira, 25 de julho de 2013

quarta-feira, 17 de julho de 2013

As cores dos espumantes


Como todos sabem os tons das cores dos vinhos mudam pela ação do tempo devido à interferência da luz e da temperatura. Não há como “imuniza-los”. O tempo deixa marcas nos vinhos assim como nas pessoas.

Não há cirurgia plástica que detenha este fenômeno.

Por estas razões é fácil interpretar as diferenças que existem nos tons das cores dos espumantes brancos ou rosados.
Neste tipo de produto existem duas variáveis que alteram os tons das cores do produto acabado: o grau de maturação do vinho base e o método de elaboração.

Os espumantes elaborados a partir de vinhos base jovens, do ano, tem cores mais pálidas, sejam brancos ou rosados.
Colocados no mercado as alterações de tons são devidos principalmente as condições de conservação e idade.
Os espumantes elaborados com vinhos base mais maturados "partem" de cores mais evolucionados, dourados mais intensos nos brancos, rosados com tons laranja nos rosados.

Espumantes brancos


Os espumantes brancos variam sua cor e tons conforme o método de elaboração e o tipo.
Os espumantes brancos elaborados pelo método charmat de modo geral tem cores de tons mais pálidos como mostra a figura 1 no quadro acima.

Nesta categoria, os mais claros são os de ciclo curto que são comercializados logo após elaborados. É o caso dos espumantes Prosecco e Moscatel Espumante.

Se um espumante deste tipo tiver tons excessivamente amarelos como a figura 3 é porque é velho ou mal conservado.
Provavelmente também mudaram os aromas e o sabor perdendo frescor e juventude. Podem até serem desagradáveis.

Os espumantes feitos pelo método champenoise ou tradicional que são de ciclo de elaboração mais longo, por conta disto, ganham tons dourados mais intensos sem perder o frescor. É natural que seus aromas sejam mais complexos. A cor destes espumantes é bastante semelhante a figura 2 do quadro acima.

O Champagne francês pode ter, sem ser um defeito, tons mais amarelo-palha como o da figura 3.

Espumantes rosados


O quadro acima mostra nas figuras 1 e 2 duas variações de tons da cor rosada. O espumante da figura 1 representa um rosado elaborado com vinho jovem, método charmat de ciclo curto e por isso com pouca evolução.

Geralmente a cor corresponde à característica aromática e gustativa que neste tipo de produto é de ser mais frutado, fresco, de acidez marcante, com pouca evolução.

Já o espumante da figura 2 representa um rosado feito a partir de um vinho base mais maturado, elaborado pelo método charmat ou tradicional por isso sua cor lembra casca de cebola e salmão.
Geralmente estes espumantes são mais amáveis desde o ponto de vista gustativo e combinam o frescor com certa complexidade.

Um espumante rosado elaborado pelo método champenoise (ciclo mais longo) que mantêm a cor rosada viva é raro. Ou foi adicionado vinho tinto no licor de expedição ou o ciclo é longo...má non tropo.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

ORUS 2013


O espumante ORUS Rosé Pas Dosé, elaborado pela método tradicional ou champenoise tem um ciclo de produção de 24 meses, doze maturando sobre as leveduras onde ganha a complexidade aromática e gustativa que o tempo possibilita devido a autólises das leveduras, e doze envelhecendo com a rolha definitiva quando ganha sutileza, elegância e potencia.

O vinho base é resultante de um assemblage de vinhos de 3 variedades, Chardonnay, que participa com seu frescor, Pinot Noir em rosado que agrega força, e uma pequena parcela de Merlot em rosado, que complementa com sua elegância amenizando a acidez.

O longo ciclo de produção proporciona uma cor rosada dourada pálida característica deste tipo conhecida como cor casca de cebola ou salmão, aromas sutis, complexos, delicados e convidativos e um sabor longo, potente e marcante pela presença das uvas tintas em boa proporção.
A expressão Pas Dosé identifica os espumantes que não sofrem adição de açúcar no licor de expedição e são conhecidos também como Nature.
Como atualmente a legislação brasileira não reconhece o tipo Nature foi classificado, e assim consta no contra-rótulo, como Extra Brut que identifica os espumantes que possuem de zero a 6 gramas de açúcares por litro.

O lote de aproximadamente 600 garrafas anuais resulta de um volume de 500 litros que é a quantidade que irá caracterizar este produto durante toda sua trajetória.

Quantidade do lote 2013: 628 garrafas devidamente numeradas.

Álcool: 12,2% volume

Açúcares: Zero

Embalagens: Estojo individual de papelão ou madeira.

Qual o milagre?


Redes de supermercados de Porto Alegre apresentaram hoje suas ofertas de vinhos para alegrar o fim de semana dos apreciadores.

Com esses preços é para alegrar mesmo!!!

Algumas ofertas chamam a atenção porque constituem verdadeiros milagres da matemática.

Dou alguns exemplos:

Vinho argentino Santa Ana embalagem de 1 litro: R$ 8,90

Vinho argentino Rio Seco embalagem de 0,75 l: R$ 8,90

Vinho chileno Panul RESERVA: R$ 14,90


Vinho uruguaio Los Teros: R$ 9,90

Não questiono a qualidade porque se estes vinhos vendem, estão nas prateleiras, é porque alguém gosta e se gostam, é bom.

Questiono qual é o milagre que permite que:

- Governos levem o que é deles através do Imposto de Importação, ICM (devidamente acrescido com a ST), IPI, PIS, Finsocial, Cofins, Imposto de Renda e outros que não lembro ou não sei pronunciar.

- Supermercado tenha lucro pagando o produto, o frete, os impostos e os custos indiretos.

- Produtor na Argentina, Chile ou Uruguai ganhe alguma coisa após o pagamento da caixa de papelão, da rótulo, da cápsula e da garrafa.
Desculpa, ia me esquecendo, também pagar a uva e os custos para elaborar o vinho inclusive amortização do capital invertido.

Todos os produtores brasileiros de uva, vinhos e espumantes temos de lotar ônibus para ir a estes países aprender como se produz barato. Não vamos pensando em qualidade porque a viagem será em vão. Só na forma de ganhar produzindo a qualquer custo.

Está aí uma sugestão de ação para o Ibravin. Pagar ônibus, hotéis e gastos com traslados e refeições.
Não será uma viagem de avião com todas as mordomias como na Copa das Confederações más valerá a pena enfrentar um confortável carro-leito por esta causa.

Talvez seja esta a única maneira de evitar que mais cantinas gaúchas fechem suas portas.

Talvez seja esta a única maneira de salvar as pequenas cantinas familiares, artesanais.

Talvez seja esta a única maneira de preservar este magnífico patrimônio cultural que é a vitivinicultura brasileira.


quinta-feira, 4 de julho de 2013

Alckmin é o maior!!!!


Agora é oficial!!!

Foi publicada no DOSP a nova MVA (Margem de valor agregado) que será utilizada a partir de 1º de Setembro de 2013 para calculo do valor da Substituição Tributária que atingirá os preços dos vinhos e espumantes que entrarem no estado de São Paulo.
O Decreto foi assinado no calar da noite do dia 28 de junho.

O valor da MVA passou de 68,24% para 109,63% e o novo cálculo é o que mostro no quadro acima tomando como exemplo um produto cujo preço final, com um valor imaginário de IPI de R$ 1,50, é de R$ 21,50. Este valor seria o que o cliente pagaria caso não existisse a maldita ST e ainda, pagaria com um prazo de 28 dd.

Como funciona a “mardita ST”:

Acrescenta ao valor total (R$ 21,50) a porcentagem de 68,24 (em setembro 109,63), valor que as cabeças pensantes e maléficas do governo de SP estimam que seja a margem do revendedor.

Sobre este valor resultante, R$ 36,17 hoje e R$ 45,07 em setembro, se aplica a alíquota de 25% que é o valor do ICM a pagar. No caso dá R$ 9,04 agora e R$ 11,27 (!!!) em setembro.

A este valor se subtrai o ICM de 12% já embutido no preço sem IPI, R$ 2,40 agora e o mesmo valor em setembro.

O valor final é R$ 6,64 agora e R$ 8,87 em setembro é a ST que eu pago e cobro de meu revendedor, ele meu revendedor repassa e você leva na cabeça. O custo final do produto ficou 30,90% maior agora, passando dos R$ 21,50 iniciais para R$ 28,14 e ficará 41,24% maior em setembro passando dos mesmos R$ 21,50 para R$ 41,24.

O pior de tudo é que este valor é pago antes de embarcar, ou seja o Sr. Alckmin garante o seu antes da venda. Como as vendas são geralmente a 28 dd. no mínimo da cantina para o revendedor e pelo menos dois meses mais para chegar ao público, todos estamos financiando o caixa do governo.

O Governador Alckmin conseguiu a proeza de ter a ST mais cara do Brasil. Ou seja, não é meter a mão no bolso de todos nós, é ser quem mais retira de todos os estados brasileiros.

Agora entendo de que forma o excelente político e administrador Geraldo Alkmin vai recuperar os recursos “perdidos” ao baixar o preço desonesto das passagens de ônibus. Do aumento da carga tributária de diversos produtos. Começou no vinho, seguira com outros.

Diminuir o tamanho da paquidérmica máquina pública paulista? Nem pensar!!!

Diminuir o desperdício, o roubo, o desvio de recursos nas obras públicas? Nem pensar!!!

Está louco fazer isso!!! Com que dinheiro vamos pagar nossos aliados, nossas alianças, nossas “despesas” da próxima campanha?.

Governador Alckmin, a cadeia produtiva de uva e do vinho lembrará de si a cada nota fiscal emitida para o estado de São Paulo.

Governador Alckmin, essa cadeia produtiva não é formada por executivos engravatados, daqueles que o senhor respeita, teme e precisa, é formada por famílias de agricultores simples, honestos, trabalhadores que diuturnamente dedicam seus esforços para produzir com sabedoria as uvas e os vinhos que o senhor tanto castiga. Essa cadeia produtiva é formada por milhares de pequenas cantinas, algumas delas já fechando, que são orgulho do Brasil pela qualidade de seus produtos.

Governador Alckmin, pense bem, reflita, volte atrás.
Nos dê motivos para erguer uma taça de vinho ou espumante em sua homenagem.
Evite que ergamos uma taça de vinagre, ainda com o risco de sermos presos por terroristas, como forma de protesto.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Serra Gaúcha que eu conheci – 11


A garrafa de vinho que parecia um abajur

Uma demonstração do grau de generosidade do mercado brasileiro de vinhos foi a passagem meteórica dos vinhos alemães “da garrafa azul”. Digo meteórica porque assim como chegaram e ganharam mercado rapidamente, desapareceram prejudicando a fama dos bons vinhos alemães.

No inicio da década de noventa um importante importador de vinhos de São Paulo decidiu inovar baseado no interesse crescente dos novos consumidores que começavam a valorizar os vinhos brancos “tipo alemão”.

Tudo começou com um vinho branco adocicado, com ligeira gaseificação, leve, agradável, fácil de beber, comercializado pela Heublein do Brasil de Bento Gonçalves na Serra Gaúcha, sob a marca Liebfraumilch apresentado na garrafa “reno”, alta, estreita, na cor verde.
Em meados da década de oitenta surgiram outras marcas como Wine Zeller, Katz Wine, Zahringer´s do mesmo estilo de vinho que criaram a categoria “branco tipo alemão”.
Devido ao gosto este vinho ganhou a preferencia dos novos consumidores cansados dos rosados adocicados, identificados como vinhos do público feminino ou das pessoas que pouco conheciam.

A inovação do importador paulista foi a cor da garrafa azul que chamava a atenção ao chegar às mesas. Na minha opinião esta garrafa estava mais para um abajur que para um vinho.

Com a chegada deste vinho, inicialmente desprezado pelos produtores nacionais, uma nova fase começava: a da inovação, da ousadia que atraia o novo consumidor pouco apegado a tradição, histórias, legendas, etc. O êxito deste vinho é mostrado nos números abaixo:

Importações em caixas de 9 litros ou 12 unidades de 750 ml

1990: 371.358
1995: 1.329.008
2000: 129.414

Fantástico, incrível!!!

A De Lantier tinha também seu vinho tipo alemão da marca Zahringer´s que começou a perder vendas porque era apresentado na tradicional garrafa verde. O departamento de marketing seguidamente me solicitava estudar a possibilidade de adotar a garrafa azul.
Eu respondia sistematicamente: Nem por cima de meu cadáver, isso é uma heresia!.
Tempo depois me disseram: Achamos que vai ter de ser por cima de seu cadáver porque nosso vinho está vendendo cada dia menos. Finalmente me submeti à vontade do mercado e trocamos a garrafa. As vendas dispararam assim como a de outros vinhos nacionais que adotaram a mesma postura afogando a importação.

Infelizmente o setor tinha falado tão mal do vinho da garrafa azul que o mercado deste produto caiu vertiginosamente em alguns anos.
Ficou a lição: mercados novos como o brasileiro gostam de novos produtos, de inovações, de surpressas. Cabe a nós produtores atender essas necessidades sem apelações, sem o abandono dos valores tradicionais, sem esquecer as raízes desta cultura milenar.

Hoje olhando este fenômeno de outra perspectiva devo reconhecer que graças a este vinho da “garrafa abajur” muitas pessoas perderam o medo e começaram a consumir.

Como o paladar é aperfeiçoado com o tempo estas pessoas hoje são certamente apreciadores de vinhos e espumantes secos. Não precisam mais do sabor adocicado para deleitar-se.