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domingo, 13 de dezembro de 2015

BREVE HISTÓRIA DO MOSCATEL ESPUMANTE





No ano de 1978 o mercado brasileiro conheceu o primeiro Moscatel Espumante elaborado na Serra gaúcha de Garibaldi: o Asti Spumanti MARTINI.

Eu tive o privilégio de fazer parte da história deste espumante que hoje cresce a cada ano.

A iniciativa foi da Martini e Rossi, empresa italiana produtora do famoso vermute, que iniciara suas atividades vitivinícolas na cidade de Garibaldi em 1973 com a elaboração do espumante De Gréville. Com a contribuição de técnicos italianos e a aprovação da Matriz na cidade de Torino – Itália, nossa equipe começou a desenvolver o projeto do ASTI BRASILEIRO no ano de 1976 incentivados e apoiados pelo Diretor Presidente na época Sr. Francesco Reti.

Faço um parêntesis para dizer que o Sr. Reti, assim era chamado, foi uma pessoa maravilhosa, amável, carinhosa, simples e solidário. Com ele aprendi os primeiros passos relacionados ao conhecimento do mercado de vinhos e espumantes. Nisso ele era uma fera. Mas ele era algo mas, um visionário porque nos anos setenta percebeu o futuro brilhante dos espumantes no Brasil. Os número agora comprovam quanto ele estava certo. O setor deveria lembrar e agradecer sua atuação em favor do produto nacional.

Vamos às etapas:

O Asti brasileiro, 1978 - 1986

Lançado com êxito em outubro de 1978, o primeiro Moscatel Espumante que tinha a apresentação exatamente igual do homônimo italiano, cumpriu todas as expectativas desde o ponto de vista de qualidade e resposta do mercado. Foi muito bem aceito nas regiões com forte presença de italianos ou descendentes, mais teve dificuldades em outras devido ao desconhecimento dos consumidores: poucas pessoas sabiam que tipo de produto era este, chamado simplesmente de Asti Spumanti MARTINI.

A marca Martini era nacionalmente conhecida, o produto não.

As vendas foram crescendo anualmente até 1986, quando o Consórcio de Produtores de Asti na Itália, como era de se esperar, encaminhou à direção da Martini em Torino na Itália, uma queixa formal sobre o desrespeito à DOC que sua principal associada fazia no Brasil.

O constrangimento que esta queixa criou na Itália fez com que uma decisão drástica fosse tomada: a suspensão imediata da comercialização do primeiro Asti Martini produzido fora do país de origem.

O Moscatel Espumante processo Asti, 1992-2000

A descontinuidade da comercialização do Asti em 1986 não tirou da direção técnica da Martini Brasil o convencimento que este espumante aromático, fácil de tomar, tinha o perfil de produto apreciado pelo mercado brasileiro. Por tal razão e após estudos de mercado decidiu-se pelo relançamento deste produto agora identificado como Moscatel Espumante processo Asti sob a marca De Gréville, nessa época reconhecida como produtora de espumantes de alta qualidade.

A menção da expressão “processo Asti” no rótulo pretendia relacionar o produto ao original italiano e facilitar sua identificação pelo consumidor.

Em fins da década de noventa surgiram outras marcas de Moscatel Espumante que contribuíram a divulgar o produto, aumentando pontos de vendas e presença nas prateleiras.

Finalmente a região produtora da Serra Gaúcha descobrira a potencialidade de um espumante, que apesar de ter surgido utilizando o modelo italiano, apresentava características próprias de frescor, acidez e ligeireza que o tornavam mais fácil de beber que o original.

Moscatel Espumante, 2000 até hoje


Os volumes crescentes de comercialização no novo século impulsionados pela entrada de mais empresas a produzi-lo, chamaram a atenção novamente do Consórcio do Asti, que sob o argumento do uso indevido da expressão “processo Asti” encaminhou uma reclamação formal ao Ministério da Agricultura do Brasília e as cantinas produtoras, fazendo ameaças de ações judiciais.

Entendendo que devido à consolidação do produto no mercado e ante as argumentações válidas do Consórcio, o Ministério recomendou aos produtores locais o abandono da expressão que ocasionara a reclamação e deixou de emitir novos registros de produto.

Infelizmente e numa demonstração de que não todos aceitam respeitar uma decisão coletiva, uma vinícola de Farroupilha ainda insiste na expressão "Processo Asti" utilizada no rótulo principal de seu Moscatel Espumante.

Apesar disto, e de modo geral, todos respeitaram essa decisão e finalmente o Brasil decidira identificar este produto com enorme potencial conforme a legislação local, abandonando definitivamente qualquer associação com o Asti da Itália.

O espumante, que é uma bebida que possui somente atributos, é versátil e associado a momentos prazerosos e alegres, está sendo descoberto pelo consumidor brasileiro.

As vendas crescem a cada ano, o consumo deixa lentamente de ser reservado a ocasiões festivas passando a fazer parte da gastronomia e o futuro parece ser brilhante.

O sabor adocicado, amável e cativante do Moscatel Espumante se adequa perfeitamente ao paladar do novo consumidor que está descobrindo esta magnífica bebida. O clima tropical que existe em boa parte do Brasil continental oferece enormes oportunidades para este produto na beira da praia, em ocasiões festivas fora das refeições, a todo o momento.

Cumpre também o papel importantíssimo, com sua jovialidade e frescor, de introduzir ao mundo dos espumantes, pessoas que o bebem somente em ocasiões especiais.

Um brinde ao sucesso do Moscatel Espumante brasileiro!!


Simples




Se você é daqueles que acha que entender de vinhos é uma condição moderna para ter destaque social, acha que precisa assumir postura “de professor” constantemente, não se aguenta fica em silencio, colaboro com algumas dicas:

Treine até conseguir pronunciar sem se engasgar o nome de algumas variedades como Müller Thurgau (pronuncie miler turgó), Gewürztraminer, Pinotage e outras que encontrará na internet. Falar fluidamente estes nomes chama a atenção.
Ao citar a Müller e a Pinotage e deixar algumas pessoas admiradas, não pare, continue em sua cruzada rumo a consagração final afirmando: ”Estas duas variedades são híbridas interespecíficas, ou seja, cruzamento de variedades da mesma espécie, neste caso Vitis vinífera com Vitis vinífera”
Se alguém fizer mais perguntas sobreo tema peça licença e vai em direção à mesa de canapés se esconder. Se ficar dando sopa poderá ser descoberto.

Diga em alto e bom som para ter certeza que a galera ouviu que “No último telefonema que tive com Paul, ele comentou que a safra em Margaux não seria das melhores”. Alguém próximo, intrigado perguntará: “Que Paul?”
Bola na área amigo, aproveite e mate a jogada. “Meu amigo Paul Pontallier, diretor técnico do Château-Margaux que conheço desde 1992”.
Se alguém fizer mais perguntas peça licença e vai para a sacada tomar ar porque centre os convivias poderá ter alguém que verdadeiramente o conhece.

Ao receber uma taça de espumante, sinta os aromas sem agitar a taça e diga: “Sem sombra de dúvida as leveduras cumpriram sua magnífica missão “post mortem” ao liberar os aminoácidos responsáveis pela complexidade e elegância deste espumante”. É importante manter-se sério porque se rir ao ver a cara de admiração e paixão dos ouvintes vai tirar credibilidade.

Agora se você é daqueles que bebe vinhos e espumantes por prazer, sem ficar preocupado em impressionar, beba em silencio. Se tiver de falar diga palavras simples, compreensíveis, do vocabulário rotineiro das pessoas.

Os vinhos não foram criados para serem falados e sim para serem compreendidos, saboreados, desfrutados.

É chato aguentar descrições novelescas, do tipo “o aroma deste vinho me lembra as margaridas recentemente floridas do jardim da minha tia no interior de Mendoza”.

Margaridas, jardim da tia, Mendoza?

Certa vez numa degustação promovida por uma Confraria, um produtor da Serra descreveu seu Tannat de forma tão poética e cheia de arabescos que um amigo meu, jornalista experiente no tema, me disse baixinho: “Meu caro, não entendi nada do que ele falou, mas o vinho não me agradou”

Ficou aliviado quando respondi: Não fica preocupado, eu também não entendi e também não gostei do vinho.

Nós produtores temos de evitar fazer descrições superlativas de nossos produtos sob o risco de não sermos levados a sério. A modéstia e a humildade devem ser características sempre presentes em nossas posturas, ajudam.